Laboratorio

Cinema no Teatro / Teatro no Cinema

Moderação e Discussão: Frederico Dinis

O tema proposto ‘Cinema no Teatro / Teatro no Cinema’ é multifacetado e abrange aspetos desde a rejeição, a concorrência, a inspiração recíproca e a colaboração. Historicamente, o cinema teve um percurso difícil para alcançar o estatuto da sétima arte, lado a lado com o teatro. Inicialmente, as atrizes e os atores conceituados recusavam aparecer em filmes, tendo sido o então novo médium considerado um espetáculo feirante sem dignidade. Na primeira década do século XX vaticinava-se que esta técnica de imagens em movimento não iria perdurar. No entanto, com o desenvolvimento tecnológico das câmaras e a crescente popularidade do cinema, surgiram também oportunidades financeiras, projetos lucrativos e ambições artísticas que atraíram encenadores e atores do teatro. Muitos dos primeiros atores vindo do mundo do teatro, bem como a necessidade de encontrar argumentos conhecidos ou melhor reconhecidos, fez que se procurasse peças aclamadas nos palcos pela crítica e pelo público. Ainda hoje em dia, a designação ‘Cineteatro’ refere a um espaço utilizado pelas duas formas de espetáculo e indica não tanto uma situação antagónica, mas o potencial simbiótico e sinérgico das artes.

Comunicações


A Convergência do Teatro e do Cinema:
O papel da imprensa nas transformações culturais

Ana Catarina Lima (CLA/UAb)

A integração entre o teatro e o cinema, a chegada do cinematógrafo e a utilização de espaços teatrais para a projeção de filmes revelam uma dinâmica de consumo cultural que reflete os contextos económicos e sociais. Em regiões mais rurais, como a vila de Ponte de Lima, transformam-se espaços para projeções cinematográficas, como salas de teatro, feiras e eventos sociais. Nesse contexto, o cinema aproxima-se do teatro, assemelha-se ao teatro e, ao mesmo tempo, compete com ele pelo público. A adaptação ou mesmo a hibridização de espaços não foi apenas uma progressão natural, mas também um testemunho dos elementos narrativos partilhados por ambas as formas de arte, um momento de transformação na própria compreensão da arte da representação. Em paralelo, o papel da imprensa assume particular importância, pela forma como conduz e aprecia criticamente essas manifestações culturais.


Cinema no teatro:
ver-se a si próprio no ecrã

Gerald Bär (CECC/UAb)

No contexto de uma análise de perspetivas autorreflexivas, tanto no cinema, como no teatro examina- se o fenómeno de se ver a si próprio no ecrã, proporcionado pelo novo medium cinematográfico no início do século XX. O inicial espanto e até o medo de se ver num filme, dá lugar ao lúdico desdobramento do ator no ecrã possibilitado pelo avanço tecnológico das camaras. A utilização de elementos cinematográficos no teatro faz parte de uma inesperada aproximação interartística. Testemunhos da época ilustram este processo de mútua inspiração entre a sétima arte e o teatro que resulta em novas perspetivas na encenação e em novos hábitos de ver no público. Além disso, a abordagem simbiótica entre as artes proporcionou dimensões inéditas de autoconhecimento para atrizes e atores.


O Teatro de Manoel de Oliveira

Luís Carlos Pimenta Gonçalves (IELT / UAb)

Numa das falas do filme Le Soulier de Satin (O Sapato de Cetim), Manoel de Oliveira afirmava que cinema e teatro são a mesma coisa. É desta identidade estética, desta proximidade de que será questão nesta intervenção. Apresentaremos exemplos desta “teatralidade” tirados essencialmente de três filmes adaptados ou com largas referências a peças de Claudel, Régio e Ionesco: Le Soulier de Satin (1985), O Meu Caso (1986), Vou para Casa (2001).


Instalar o artifício. O teatral na obra de João Botelho

André Campos (UAb)

Quando, em entrevista, afirma que a «chave» d’Os Maias (2014) reside no genérico – porque instala 28 ENCONTROS25 | Festival de Cinema de Viana . 2025 o artifício –, João Botelho desvenda uma intenção de contrariar o «realismo endógeno» (André Bazin) da 7.ª Arte. O seu «cinema da não- identificação psicológica» (José Manuel Costa), devedor da lição do “Mestre” Manoel de Oliveira, assenta grandemente nesse princípio. Propomos, assim, uma reflexão em torno da relação entre esta instalação do artifício e o fenómeno teatral, aqui entendido como dispositivo e referencial semiótico, para o que revisitaremos passagens e aberturas de filmes como Conversa Acabada (1981), Quem és tu? (2001) ou Um filme em forma de assim (2022).

Moderação e Discussão


Frederico Dinis

Frederico Dinis

(ID+ | IPCA | ESE-IPVC)

Doutorado em Estudos Artísticos, especialidade de Estudos Teatrais e Performativos, pela Universidade de Coimbra e Pós-Doutorado em Sociologia – Sociologia da Arte pela Faculdade de Letras da Universidade do Porto. É Docente Convidado da Escola Superior de Educação do Instituto Politécnico de Viana do Castelo e Investigador Integrado do ID+ - Instituto de Investigação em Design, Media e Cultura do Instituto Politécnico do Cávado e do Ave. É autor de diversos artigos científicos sobre temáticas ligadas às artes e cultura visual, aos estudos teatrais e performativos, às metodologias de investigação através da prática artística, aos estudos de memória, aos estudos artísticos e culturais, e à arte e tecnologia. O seu trabalho artístico tem sido abraçado por museus, salas de concerto, espaços públicos e eventos, em Portugal, Áustria, Espanha, Finlândia, Brasil, México e Coreia do Sul.